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O Dia do Meio Ambiente e a Conferência de Estocolmo

No próximo domingo, dia 5 de junho, será celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia.

Além do significado de alerta para as causas ambientais do presente, que são muitas e de extrema gravidade, a data serve também para assinalar um momento importante da história humana, a partir de quando os governos e a própria sociedade passaram a considerar a questão ambiental como algo que merece atenção prioritária.

No princípio

De fato, a percepção do homem sobre o meio ambiente é algo que vem sendo transformado ao longo dos tempos. Na Pré-História, essa percepção se estabelecia a partir de uma perspectiva muito íntima do homem com o ambiente natural. Assim, a relação humana com a natureza não gerava mais conflitos do que aqueles que ainda hoje geram as demais espécies animais, que constituem a própria natureza.

Ou seja: ainda que o homem existisse como uma espécie com maior capacidade de entendimento e de interação com o meio do que as demais, esta capacidade não interferia tanto nos aspectos naturais que o cercavam, a ponto de criar danos verdadeiros. Assim os primeiros humanos viviam como parte integrante do ambiente natural.

Porém, naquele tempo também já havia a percepção de que dominar a natureza era uma condição básica para a evolução humana. E foi a partir desse princípio que nossa espécie evoluiu muito mais em função de aquisições culturais e tecnológicas do que a partir de uma transformação das características físicas, como se processa com as tantas outras espécies.

Por exemplo, foi essa necessidade de domínio do meio que acabou levando os primeiros homens aos agrupamentos tribais, nos quais os conhecimentos passaram a ser compartilhados, e à invenção do fogo. Foi por aí que a agricultura foi desenvolvida e a civilização foi fundada, afinal.

Pensamento

A partir da Antiguidade – além dos novos hábitos que a vida sedentária passava a proporcionar – as religiões, a filosofia e as ciências começaram a criar novas formas de conexão do homem com os aspectos naturais. Ainda que os povos mais primitivos mantivessem aquela relação de intimidade com a natureza que espantosamente ainda é preservada por algumas populações – como a dos índios peruanos da tribo Mascho Piro ou a de alguns povos nômades que persistem no estilo de vida ancestral-, a parcela chamada civilizada da humanidade abandonou as habitações em cavernas ou em tendas para viver em construções sólidas nas cidades que se formavam.

Cada vez mais distante do ambiente natural, o homem compreendeu ainda mais que, para satisfazer as próprias necessidades e desejos, era preciso dominar a natureza.

Bacon

O pensamento do filósofo inglês Francis Bacon (1561 – 1626) talvez seja o ápice e a síntese dessa maneira de pensar. Pretendendo uma reforma completa no conhecimento e nos métodos de desenvolvimento da ciência, que até a época dele permaneciam baseados no pensamento aristotélico, Bacon foi responsável por reflexões importantes para a ciência moderna. Afinal, foi ele quem concluiu que a ciência deveria existir para servir ao homem, inclusive para atendê-lo no esforço de dominação da natureza.

Gradativamente, essa passou a ser a maneira predominante de pensar. Não resta dúvida que esta via de pensamento foi fundamental para a ampliação do conhecimento humano, oferecendo contribuições decisivas para o desenvolvimento da medicina, da engenharia, da astronomia e dos tantos outros campos do estudo científico. Foi a partir do conhecimento adquirido com esse pensamento que a humanidade alcançou as tantas revoluções industriais e, por que não dizer, sociais que aconteceram pela Europa da segunda metade do século 18 à primeira metade do século 19 e que se alastraram em consequências por todo o planeta no século seguinte.

Contudo, vivendo em um planeta ainda tão inexplorado, quando a população mundial não chegava a 550 milhões de pessoa (segundo a estimativa de Colin McEvedy e Richard Jones no Atlas da História da População Humana, disponível em Word History Site ), Bacon não poderia  prever que a dominação sobre a natureza deveria ser feita de acordo com critérios que estabelecem limites para os resultados que ela acarretaria.

Velocidade

Em vários aspectos, a dominação sobre a natureza se tornou possível. Com ela, uma infinidade de recursos naturais que em tempos passados sequer eram conhecidos passaram a representar possibilidades de avanços ainda mais acentuados para a humanidade.

Por exemplo, no final do século 19, com a evolução da indústria siderúrgica e da química, as máquinas térmicas evoluíram do uso do vapor de água gerado pela queima de carvão para os motores de combustão interna que queimam combustíveis derivados de petróleo e de origem vegetal. Esse foi um passo que permitiu uma nova revolução industrial que foi decisiva para os avanços e também para os conflitos do século seguinte. Foi esta revolução que fez surgir a indústria automotiva, a indústria aeronáutica e aeroespacial e que revolucionou a indústria naval e tantas outras.

No século 20, com as sucessivas descobertas nas áreas da química e da física, novas possibilidades tecnológicas surgiram na siderurgia, no campo da eletricidade, no de compostos químicos e em vários outros, possibilitando inventos excepcionais que, em apenas cinco décadas transportaram a civilização de um estágio de desenvolvimento precário para patamares de avanços capazes de enlouquecer Leonador Da Vinci (1452-1519) e Júlio Verne (1828-1905).

Tudo se processou numa velocidade incrível. Por exemplo, é preciso considerar que entre a construção do primeiro automóvel moderno que utilizou motor a combustão – concebido pelo engenheiro alemão Karl Benz (1844-1929) em 1876 – e a primeira pegada do homem na Lua deixada pelo norte-americano Neil Armstrong (1930-2012) em 1969 – passaram-se 93 anos. Pode parecer muito tempo mas, sob a perspectiva histórica, isso não representa nada. Considere, por exemplo, que entre a invenção da roda – datada do final do Neolítico, por volta de 3.500 a.C – e a criação do automóvel que se move sobre ela passaram-se cinco milênios!

Limite

Porém, todo esse desenvolvimento custou um preço considerável. Além dos tantos inventos que criaram máquinas diversas, a maioria delas responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa, os avanços proporcionados pela ciência também tiraram a humanidade de singelos 1,62 bilhões de habitantes em 1900 para os quase 7,5 bilhões atuais. Considere que em 1800 a população mundial era de 900 milhões de pessoas e você terá a dimensão do tanto que o crescimento populacional ao longo do século vinte e das duas primeiras décadas do 21 é exorbitante.

Com isso, é claro, o impacto sobre o nosso planeta aumentou não só na proporção da população humana, como também na grande dimensão das novas formas de impactar o meio ambiente que surgiram ao longo de um espaço de tempo muito curto. É importante perceber que toda essa progressão descontrolada, tanto de população, quanto de impacto ambientais negativos é devida a um tipo de pensamento que ainda permanece vigente na cabeça da imensa maioria das pessoas, mas que encontraram a primeira forma organizada de contestação mundial na Conferência de Estocolmo.

Por isso, a data é mais do que importante

A grande contribuição da Conferência de Estocolmo foi implicar os governantes de mais das 113 nações presentes, além de 400 instituições governamentais e não governamentais, com as questões ambientais. Aquela foi a primeira ocasião na qual os temas do desenvolvimento econômico foram conectados aos impactos ambientais que ele causa e também foi a primeira vez em que, formalmente, a partir da ONU, foram estabelecidos parâmetros para melhorar a relação do homem com o meio ambiente.

Exercendo a Educação Ambiental, é possível notar que as mudanças de postura que são necessárias para que a humanidade se adeque à realidade planetária demoram para acontecer, o que não quer dizer que elas não aconteçam. Grande parte dessas mudanças, isoladamente, são pouco significativas, para o contexto global. Por outro lado, a partir do momento em que pequenas e grandes iniciativas se somam, a perspectiva de mudança se torna consistente. A partir do momento em que os governos nacionais e, por consequência, as sociedades que eles representam, passaram a considerar a temática ambiental como sendo de responsabilidade de todos, o que houve a partir de Estocolmo, ano após ano, os compromissos têm sido firmados e as ações têm sido efetivadas.

É verdade que há muito que avançar nesse sentido, como também é claro que a velocidade de avanço está longe de ser a ideal. Contudo, os avanços existem, o que já é uma ótima notícia.