tbilisi

O convite de Tbilisi

Se você não é um aficionado por judô ou por esportes, é provável que a última vez que  prestou atenção em Tbilisi, a capital da Geórgia, tenha sido na época do conflito separatista de 2008, que colocou aquele país em rota de colisão com a Rússia. Há poucos dias, a cidade voltou a chamar a atenção dos brasileiros em função das conquistas dos nossos judocas no Grand Prix de Tbilisi, disputado no final de março. No torneio, o sul-mato-grossense Rafael Silva e a gaúcha Mayra Aguiar ganharam medalhas de bronze, enquanto a paulista Maria Suelen Altheman ficou com a medalha de prata.

Contudo, fora do cenário esportivo ou do noticiário de guerras, a cidade caucasiana tem uma relevância imensa para as causas relacionadas ao meio ambiente planetário, sobretudo no que diz respeito aos princípios da Educação Ambiental.

Afinal, foi em Tbilisi que, entre 14 e 26 de outubro de 1977, organizada pela Unesco, em colaboração com o Pnuma, houve a Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, que se tornou conhecida como a Conferência de Tbilisi, realizada no tempo em que a Geórgia ainda pertencia à extinta União Soviética.

Mas, qual a real importância desta conferência?

Antes

Após a Segunda Guerra, o discurso ambientalista começou a acender por todo o mundo. De fato, a preocupação inicial era de cunho muito mais ecológico, sem grande atenção para a conotação social que a temática exige. Mesmo assim, em 1945 a expressão Enviromental Studies (estudos ambientais) já transitava na Inglaterra.

Nos anos seguintes, a ciência passou a compreender melhor a relação do homem com o planeta. Contudo, foi só a partir de 1960, quando o ambientalismo se instalou nos Estados Unidos, é que o movimento obteve força verdadeira. Ao longo daquela década a causa ambientalista se desenvolveu a partir da disseminação do conceito de uma ética ambiental, que relaciona a vida humana à conservação da vida de todos os demais seres. Então, surgiu a conotação da educação ambiental como uma forma específica educacional, voltada para orientar a sociedade sobre como se posicionar de acordo com aquela nova ética.

Até o início da década de 1970, uma série de eventos isolados ocorreu em várias partes do mundo, visando ao desenvolvimento das temáticas ambientais no âmbito da educação. Em 1972, finalmente, a partir da Conferência de Estocolmo, a Educação Ambiental recebeu o reconhecimento como um campo de ação pedagógico, passando a ser vista internacionalmente como uma necessidade.

Em 1975, foi publicada a Carta de Belgrado, como resultado do Seminário Internacional de Educação Ambiental realizado entre 13 e 22 de outubro na então capital da Iuguslávia, hoje capital da Sérvia. O documento contextualizou a situação ambiental do planeta e a necessidade de mudanças no sistema educacional em todos os países, a fim de se promover a ética ambiental.

A Conferência de Tbilisi

Representando um marco fundamental no exercício do ambientalismo, a Conferência de Tbilisi agregou contribuições concretas para que expedientes educacionais passassem a ser adotados, progressivamente, pelas nações. Assim, ela estabeleceu os primeiros parâmetros para a prática da Educação Ambiental, convocando os Estados participantes da conferência para incluírem em suas políticas de educação os conteúdos, diretrizes e atividades relacionadas à ética ambiental, convidando também as autoridades educacionais a refletirem, pesquisarem e inovarem no sentido de promover este expediente. ,

Incentivando os Estados membros a colaborarem entre si neste campo, sugeriu o intercâmbio de experiências, de pesquisas, de documentação e de materiais que pudessem servir à capacitação dos docentes e dos especialistas em educação dos vários países. Por fim, a partir de Tbilisi a comunidade internacional foi estimulada a colaborar com uma iniciativa educacional que representa a solidariedade de todos os povos.

De maneira sintética, podemos dizer que a Conferência de Tbilisi trouxe à humanidade uma nova perspectiva sobre as questões ambientais, demonstrando que, de fato, precisamos aprender a nos relacionar com o meio em que vivemos e com as pessoas que nos cercam.

Este é o grande convite de Tbilisi.

Referências

Dias, Genebaldo Freire – Educação Ambiental, Princípios e Práticas – Editora Gaia, 2003

Clique aqui para acessar a Declaração Intergovernamental sobre Educação Ambiental (versão disponibilizada pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo).