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Não é lixo! É resíduo!

Segundo a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH), diariamente são recolhidas 2,2 mil toneladas de resíduos na coleta domiciliar da capital mineira e 300 toneladas de resíduos são retiradas de depósitos clandestinos. A somatória nos leva a um total diário de 2,5 mil toneladas de resíduos que são recolhidos na cidade todos os dias.

Coincidência ou não, de acordo com estimativa do IBGE, atualmente a população belo-horizontina gira em torno de 2,5 milhões de pessoas, o que significa que cada pessoa que mora na capital, diariamente, produz cerca de um quilo de resíduos que, em sua maior parte, acabam sendo destinados para o aterro sanitário.

Como péssima contrapartida, ainda segundo a SLU, apenas 18 toneladas diárias de recicláveis são recolhidas em BH. Fazendo as contas, vamos perceber que cada belo-horizontino manda apenas sete gramas de materiais para a reciclagem, ou 7% do que gera, ao mesmo tempo em que destina 993 gramas para o aterro.

O que ocorre em BH acompanha a realidade nacional. Em média o brasileiro gera um quilo de resíduos por dia. Ora, se pensarmos que a população brasileira é de cerca de 200 milhões de habitantes, chegaremos a absurdas 200 mil toneladas de resíduos que são gerados no país todos os dias.

Resíduos e destinação

A quantidade de resíduos gerados por uma pessoa tem relação direta com a capacidade de consumo que ela possui. Assim, populações com maior poder aquisitivo geralmente geram mais resíduos do que aquelas que possuem renda menor.

Por exemplo, de acordo com dados de 2013 da Environmental Protection Agency (EPA), a agência de proteção ambiental dos Estados Unidos, em média cada norte-americano gera cerca de 2 quilos de resíduos por dia, o dobro do que geramos no Brasil. Contudo, por lá, mais ou menos 34% do total dos resíduos são destinados à reciclagem ou à compostagem.

Claro! Como geram mais e têm população maior do que a nossa (mais ou menos 319 milhões de habitantes), os norte-americanos continuam enviando muito mais resíduos para os aterros ou para a incineração – um tipo de destinação mais comum por lá – do que nós fazemos. Porém, os números demonstram que eles possuem uma visão mais apropriada do que representam os resíduos que geram.

Não é lixo

A destinação que é dada aos resíduos está diretamente relacionada com a percepção que a sociedade tem dos materiais. Aqui no Brasil, como na maioria dos outros países, ainda mantemos uma percepção que distorce o valor que atribuímos aos resíduos que geramos.

Tradicionalmente, fomos condicionados a denominar como sendo lixo tudo aquilo que é resta das nossas relações de consumo e que não nos oferece uma utilidade imediata, prática ou visível. Assim, na maior parte das vezes, acabamos dando uma destinação errada a materiais que poderiam ser reciclados ou reaproveitados de outra forma.

Isso mesmo! Não é lixo! É resíduo.

Lixo ou resíduo? Esta pode parecer apenas uma questão semântica. Contudo, estamos falando de algo muito mais profundo, que é cultural e que dita o nosso comportamento.

Racionalmente, sabemos perfeitamente que há uma série de materiais que podemos reciclar, reaproveitar ou reutilizar. Por outro lado, o racional nem sempre é suficiente para provocar a ação correta.

Por isso mesmo, precisamos recorrer ao condicionamento para interiorizar o termo correto. Enquanto não utilizarmos esse termo correto para nos referirmos aos resíduos que geramos não compreenderemos o valor dos materiais que eles contêm. Assim, continuaremos desdenhando a importância econômica, social e ambiental que estes materiais representam e continuaremos tratando como lixo o que não é lixo.

Uma bom ponto de partida para iniciarmos o condicionamento nesse sentido pode ser vir com a visualização dos volumes de cada tipo de resíduo que geramos.

20%

Atualmente, boa parte das pessoas tem uma ideia razoável do que representam os conceitos da reciclagem e sobre o que pode ser fetio para reduzir a destinação de resíduos para o aterro sanitário. Porém, poucas têm a verdadeira noção do quanto esta redução pode ser significativa.

Para formar uma imagem do que é a realidade, você pode fazer uma experiência muito simples. Em um primeiro momento, não se preocupe tanto com a destinação que você dará aos resíduos, assunto que prometo tratar em um próximo post. Afinal, agora pretendemos apenas entender o volume que representa aquilo que não precisa ser enviado para o aterro sanitário em comparação com o que realmente é lixo e que deve ser descartado.

Então, mesmo que no final da experiência você envie tudo para o aterro, tire pelo menos um dia para acondicionar separadamente os resíduos que você gera na sua casa, fazendo isso em três espaços.

No primeiro espaço, acondicione os recicláveis – plásticos, metais, vidros e papéis. No segundo, acondicione aqueles resíduos orgânicos que podem servir à compostagem – cascas e talos de frutas e de verduras não temperadas, borra de café, sachê de chá etc.. No terceiro, reserve o que realmente é lixo e que deve ser enviado para o aterro – restos de comida, lixo de banheiro, fezes de animais, entre outros resíduos.

Em condições normais de geração, é muito possível que o volume acumulado no terceiro espaço represente em torno de 20% * do total acumulado.

Isso quer dizer que se você passar a selecionar os materiais recicláveis, dando a eles a destinação correta, e a promover a compostagem doméstica, reduzirá em mais ou menos 80% * a quantidade de resíduos que enviará para o aterro sanitário.

Grosso modo, se projetarmos este número para a realidade de Belo Horizonte, isso significa que 2 milhões de toneladas de resíduos não serão lançadas todos os dias no aterro da cidade. Ampliado para a realidade nacional, chegaremos a incríveis 160 mil toneladas de resíduos que passarão a ser tratados de maneira correta, ao invés de serem descartados como lixo, sem qualquer valor.

 

(*) Estes números são meras aproximações, sem nenhum rigor científico ou controle. Contudo, significam uma estimativa que